20 maio 2016 WhatsApp como ferramenta de Comunicação Interna
É possível utilizar aplicativos como o WhatsApp dentro de ambientes corporativos? Quais são as implicações legais e trabalhistas ao se comunicar com o funcionário por meio dessas novas tecnologias? Grupos com o chefe no aplicativo são formais ou informais? Essas questões foram abordadas durante encontro realizado na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), para apresentar o resultado da pesquisa “WhatsApp, trabalho e comunicação 2015”, realizada por Bruno Carramenha, Thatiana Cappellano e Viviane Mansi. A pesquisa é de 2015, mas o tema continua bastante atual.
Por Camila Rodrigues via blog pix
A pesquisa realizada entre junho e julho de 2015, pelas plataformas e-mail, WhatsApp, Facebook, Linkedin e Twitter, constata que existe uma necessidade de as empresas se adaptarem e de começarem a rever a regra do jogo. Das 1.640 respostas, de 19 Estados brasileiros, foram consideradas 1.194 para a avaliação. Dentre os participantes da pesquisa, 77% são do gênero feminino; 49,8% com idade entre 20 e 30 anos; 86% atuam na iniciativa privada; 83% têm formação acima do nível superior, e 48% estão atualmente em posição de liderança, com pelo menos um reporte direto. “Quando falamos de WhatsApp, estamos falando de pessoas que estão consumindo e produzindo informação o tempo todo”, ressalta Thatiana Cappellano, coordenadora da Pós-Graduação em Comunicação Interna da FAAP.
Para Viviane Mansi, professora de pós graduação da Faculdade Cásper Libero e Gerente Global de Comunicação Interna da Votorantim Cimentos, é importante entender as três dimensões que contemplam a pesquisa – empresa, sociedade e indivíduo. “O nosso espaço de trabalho começa dentro da empresa, mas não podemos perder a conexão com o que acontece na sociedade, na aspiração que existe nesse entorno e com o indivíduo, porque ele não entra na empresa e passa a ser só o empregado. Ele leva para dentro da empresa um pouco da expressão dessa sociedade em que ele vive”, afirma.
Nos últimos anos, as organizações passaram a ser formadoras de culturas. “Temos uma necessidade de pertencer a este ambiente cultural das organizações para que consigamos nos entender enquanto sujeitos na cultura em que vivemos”, alerta Thatiana.
Além da apresentação dos resultados da pesquisa, o evento teve como proposta ser um ambiente de debate e reflexão. O encontro foi dividido em três painéis:
Perspectivas jurídicas
É cada vez mais comum que os profissionais, depois do horário do expediente, continuem sendo acionados pelo empregador para resolver questões do trabalho por meio do aplicativo. Nesse painel, foram abordadas as implicações legais e jurídicas nas relações de emprego e trabalho no uso do WhatsApp e de novos aplicativos. Segundo a pesquisa, apenas 23,5% das empresas já realizaram algum tipo de orientação aos seus empregados quanto ao uso do WhatsApp para fins profissionais. Deste grupo, 57,5% são micro e pequenas (até 99 empregados), sendo que apenas 26% são grandes empresas (acima de 500 empregados).
Para Márcio Yoshida, professor de Direito do Trabalho na Faculdade de Direito da FAAP, essas novas tecnologias contribuíram para o aumento de ações trabalhistas na Justiça. No Brasil, são abertos cerca de 5 milhões de novos processos trabalhistas por ano. “O WhatsApp tem sido um prato cheio para esses novos processos. As conversas pelo aplicativo, fora do expediente de trabalho, podem servir de prova e abrem espaço para o pagamento de horas extras e disponibilidade além do horário de trabalho”, explica.
Fernanda Molino, advogada da Cots Advogados, empresa especializada em Direito Digital, destaca os perigos na divulgação de informações confidencias nas redes sociais e o impacto disso para as empresas. Para falar sobre isso, Fernanda usou o caso recente do funcionário da Net que utilizou os dados cadastrais para assediar uma cliente pelo WhatsApp.
Para os palestrantes, o ideal seria focar a comunicação por meio dessas redes sociais nos celulares corporativos apenas para gestores e cargos de confiança, previamente acordado, pois diminuiria a probabilidade de processos contra a empresa.
Perspectivas tecnológicas
O uso dessas tecnologias no ambiente de trabalho tem se tornado cada vez mais comum. “Estamos falando de um espaço onde é possível o diálogo, a troca, a interação e a mudança de opinião. Eu não só me abro para falar e para ouvir, mas temos aqui um ambiente que é propício para nos transformar”, alerta Viviane Mansi.
De acordo com os dados da pesquisa, 77% das pessoas participam de grupos do WhatsApp com pessoas do trabalho e 33% desses grupos foram criados por iniciativa do líder. Para abordar a midiatização e as mídias digitais, Eric Messa, coordenador do Núcleo de Inovação em Mídia Digital da FAAP, e Elisabeth Saad, professora titular e líder do grupo de pesquisa na área de mídias digitais da Universidade de São Paulo (USP), trouxeram um olhar sobre as tecnologias no cotidiano das pessoas e da organização. “Somos uma sociedade na qual somos vigiados pelos nossos próprios pares. Estamos nessa fase de construir os limites dessas redes sociais”, diz Messa.
Perspectivas para a reputação
No último painel, Gislaine Rossetti, Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade da TAM, e Natália Salomão, Head de Comunicação e Responsabilidade Social da Johnson & Johnson, debatem sobre o uso de aplicativos como WhatsApp dentro de suas empresas e refletem sobre os possíveis impactos para a reputação das organizações.
“O interesse da empresa tem que ser maior que o interesse individual”, afirma Gislaine. O projeto piloto de uso do WhatsApp da TAM foi compartilhado com parte dos comandantes e da tripulação e, com isso, foi destacada a necessidade de determinar um foco e objetivo da utilização para estes grupos, deixando claro aos profissionais quais tipos de informações e conteúdos serão compartilhados neste espaço. “É preciso mudar a mentalidade da empresa sobre a comunicação com base na estratégia. O trabalho da comunicação é intangível. Nós somos os responsáveis por articular e chamar as pessoas para o diálogo”, enfatiza ao falar sobre os desafios da comunicação corporativa.
Para Natália, embora o uso do celular na linha de produção seja proibido, “o aplicativo amplia a comunicação quando enfatiza as notícias e conteúdos já trabalhados em outros veículos de comunicação da empresa, como informativos, comunicados, e-mails e sites”.
Bruno Carramenha, pesquisador, consultor e professor da FAAP, explica que o tema abordado na pesquisa não está fechado e pede mais exploração de ordem acadêmica, além de mais debates por parte das organizações e dos empregados.
Fonte blogpix
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